A insegurança, o sectarismo, a violência, tanto quanto a intolerância, o radicalismo, o cinismo acamparam neste canto do mundo em que geograficamente vivemos apontando para uma possível desconstrução de um projeto de paz, de liberdade e de solidariedade que, após a II Grande Guerra e face às consequências desta, assumiu um relevante protagonismo sobretudo no domínio dos valores democráticas e do bem-estar social. As diversas crises que, porém, sobreviveram, nomeadamente a partir dos anos 1970, foram retirando suporte aos alicerces dessa construção. Responsabilidade dos próprios Estados – membros mas, muito mais do que isso, intromissão de interesses estratégicos e geopolíticos exógenos, a par da ferocidade de uma globalização financeira cega que o neo-liberalismo ideológico serve ainda sem escrúpulos.

O chamado “Brexit” é uma traição imperialista ao projeto daquela Europa de paz e liberdade, de progresso e de solidariedade. Entre múltiplas irracionalidades e infindáveis manipulações político – partidárias em que se gerou e de que se alimenta é – tem sido – uma porta aberta aos obscuros interesses da Rússia de Vladimir Putin, tanto quanto aos da hegemonia dos EUA sobre a economia e a finança globais. Erdogan entrará pela mesma porta, depois, para recolher os salvados de um Ocidente crepuscular.

O caos aparece como risco maior nesta vertigem que se prefigura como a nova “normalidade”: todos contra todos. Disto nos dá conta o filme “Joker” de Todd Phillips, vencedor do último Festival de Veneza. Todos nós o deveríamos ver! Sendo arrepiante no seu conteúdo, poderá, decerto, ajudar muitos a ver e a interpretar o presente de uma forma menos angélica e a tentar decifrar a futura ordem internacional que nos estará já a diluir no caos e na insignificância.

No dia 12 de dezembro, os britânicos vão às urnas de novo para também se confrontarem com o seu destino. Três eleições gerais em quatro anos, mais o referendo sobre a saída da U.E. (2016) e a votação recente para as eleições europeias – ou seja 5 (cinco) escrutínios e nenhuma escolha para o futuro mas, antes, cada vez mais confusão, irracionalidade e guerrilha entre os próprios britânicos e os partidos que os pretendem representar.  A U.E. está refém dos interesses britânicos mas, estes, estão perante um futuro que poderá ser-lhes pouco risonho ainda que, porventura, a eleição defina alguma escolha clara. Como se resolverá, na realidade, a questão irlandesa? A Escócia fará um novo referendo à sua independência? E o País de Gales?

O Ocidente não é o que foi há ainda poucos anos e nunca mais voltará a sê-lo. Tenho as maiores dúvidas sobre a viabilidade de um novo imperialismo ou colonialismo britânico. Certo é que muito tempo há-de passar e mil sacrifícios hão-de chegar até voltar ao Ocidente aquele conjunto de valores que dele fizeram um espaço de paz e de prosperidade maior.

Os sinos vão dobrar. Por todos.

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